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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

[Conto] Jubilosos


Jaime caminhou pelo pátio do sítio e olhou a estrada ao longe. Podia ver a poeira que levantava ao passar de um comboio de camburões.

Saindo da velha casa de madeira, outros rapazes e moças ficaram atrás de Jaime.

- Quem são? – perguntou Joana.

- São policiais – disse Jaime – Acho que alguém na vila nos delatou.

- Mas o que eles vieram fazer aqui?

- Cumprir as profecias – respondeu Jaime.

As crianças que corriam pelo pátio também se ajuntaram ao grupo e, em seguida, outros homens e mulheres saíram da casa.

Há algum tempo haviam saído da cidade onde moravam, pois tudo indicava que se aproximava uma grande tempestade de eventos que poria fim à história deste mundo.

Tudo começou com um grande movimento evangelístico, levando com intensidade a mensagem do retorno de Jesus para todos os lugares. Quase que concomitantemente, surgiu no cenário mundial uma figura que se auto declarava o supra-sumo de todas as divindades e, claro, o novo Jesus, retornando em sua segunda vinda para restaurar o mundo; fazia milagres e realizava incríveis sinais.

Muitos acreditaram nele e em seus novos mandamentos. Líderes mundiais foram seduzidos por seu poder e curvaram-se diante dele.

Aqueles que não obedeciam às leis desse Jesus começaram a ser perseguidos. Marcos, por continuar obedecendo a bíblia, perdeu seu emprego e teve seus bens confiscados. Também não podia mais congregar em sua igreja.

Quando decidiu sair da cidade, por pouco, quase foi preso, mas conseguiu escapar, deixando para trás uma cidade que receberia as pragas de Deus, pois foram seladas com a marca do anticristo.

O jovem vagueou pelo campo até ser providencialmente encontrado por Antônio, um velho homem que o conduziu até um sítio onde pessoas fiéis a Deus permaneciam.

Estavam escondidos do mundo, vivendo do que plantavam e colhiam e, principalmente, de providências e sustento divino.

Mas, agora, parecia que o fim se aproximava. Cerca de trinta pessoas, de crianças a velhos, estavam no pátio quanto um homem fardado, protegido por diversos soldados em sua retaguarda, perguntou aos berros:

- Há uma sentença de execução contra vocês, por não obedecerem as novas leis. Como se declaram?

- Somos servos do Deus Altíssimo e não nos curvamos a leis humanas que vão contra Ele – gritou Marcos em resposta – Diante de suas leis, somos culpados. Mas perante Deus, somos justos.

O comandante abriu a porteira e seus soldados caminharam em direção ao pátio. Joana entoou um cântico – Jubilosos Te Adoramos – e todos a seguiram. Ficaram ali parados, cantando os refrões enquanto a milícia sacava rifles e soltava, com cliques, as travas das armas, seguido pelo barulho de engatilhamento de outras.

Conforme avançavam os passos, aumentava-se o som das vozes cantando, como se houvesse uma algo sobrenatural naqueles tons musicais.

Os soldados pararam e fizeram mira. Apontaram para crianças, jovens, adultos e velhos, mas a mira estava difícil, pois seus alvos brilhavam. Brilhavam mais, com luzes douradas e prateadas. Era quase ofuscante, mas os soldados ainda sustentavam as armas, aguardando a ordem de disparo.

Mais forte que a luz, o som parecia rasgar os tímpanos daqueles homens. Vozes fortes, potentes, cantavam “Aleluia, aleluia”, dando a impressão que não vinha apenas do grupo, mas de todos os lados. Alguns não resistiram, colocando as mãos nos ouvidos, largando as armas.

As vozes ficaram mais fortes; a luz mais intensa. O brilho e o som vinham de todos os lugares. O comandante, com a face marcada por uma grande chaga, conseguiu abrir os olhos. Viu, por um breve segundo, um exército de seres com asas, rodeando o pequeno grupo de fugitivos.

Ao olhar para o alto, foi como se suas vistas queimassem e não conseguiu ver aquilo que os santos de todo mundo aguardavam: Jesus, acompanhado de uma hoste de anjos, estava voltando. Vinha para buscar os seus, entre eles Marcos, Joana, Antônio e todos os outros que foram fiéis até o último momento e entoavam o cântico dos salvos.

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